A crise hídrica volta a rondar o Brasil. Com chuvas irregulares, estiagens prolongadas e aumento da demanda, o risco de colapso nos sistemas de abastecimento é cada vez mais real.
Nesse cenário, o reuso de água ou o aproveitamento de outras fontes alternativas, como por exemplo captação de chuva ou água de afloramento de lençol freático, deixa de ser uma alternativa e se torna uma urgência.
Além de promover economia e sustentabilidade, o reuso evita o esgotamento de fontes naturais de água potável, preservando esse recurso essencial para fins prioritários como o consumo humano.
Neste artigo, vamos mostrar como o reuso de água ou o aproveitamento de fontes alternativas podem transformar o futuro.
Ao substituir água tratada por água de reuso ou outras fontes alternativas em atividades não potáveis (ex.: irrigação, lavagem de pisos, vasos sanitários), preservamos os mananciais para usos realmente essenciais.
Menor captação em rios e aquíferos reduz impactos ambientais e ajuda a garantir disponibilidade hídrica para as próximas gerações.
Empresas e condomínios com sistemas de reuso, captações de água de chuva ou aproveitamento de afloramento de lençol freático podem reduzir consideravelmente os custos com abastecimento de água.
De acordo com a Sabesp, os preços de água de reuso podem ser de 2 a 4 vezes menores quando comparada com água potável.
Sistemas de reuso garantem maior autonomia hídrica durante períodos de escassez.
A crise hídrica que ocorreu no Sudeste brasileiro em 2014 mostrou como somos vulneráveis aos eventos climáticos extremos.
Considerada a mais severa dos últimos 70 anos, a estiagem prolongada levou o Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da Grande São Paulo, a níveis críticos jamais registrados, obrigando as autoridades a recorrerem ao chamado “volume morto”. Nome dado a reservas hídricas abaixo dos níveis normais de captação que nunca haviam sido utilizadas.
Esta situação impactou profundamente tanto as cidades quanto o setor industrial. Milhões de pessoas enfrentaram rodízios e racionamento de água, enquanto indústrias viram suas operações ameaçadas pela escassez do recurso essencial para seus processos produtivos. Muitas empresas foram forçadas a reduzir suas atividades, gerando perdas econômicas.
Enquanto outras empresas dependentes exclusivamente do abastecimento convencional sofriam com a escassez, as indústrias conectadas ao sistema de reúso mantiveram suas operações com segurança e regularidade.
Este contraste destacou como a diversificação das fontes hídricas e a implementação de sistemas de reúso proporcionam maior autonomia e resiliência durante períodos críticos.
Embora o progresso seja notável, o Brasil ainda está longe de aproveitar todo seu potencial nesta área. Apenas 1% do esgoto tratado na região metropolitana de São Paulo é convertido em água de reúso, e somente 8 das 27 unidades federativas brasileiras possuem regulamentação específica para esta prática.
Com as mudanças climáticas intensificando eventos extremos, investir em sistemas de reúso não é apenas uma opção sustentável, mas uma necessidade estratégica para garantir a continuidade das operações industriais e a segurança hídrica das cidades brasileiras frente aos desafios que se anunciam.
Apesar dos benefícios, alguns obstáculos ainda limitam a adoção em larga escala:
O reuso e outras fontes alternativas são indicados para atividades como:
Definição:
Água residual proveniente de chuveiros, lavatórios e lavanderias (exceto água de vasos sanitários), tratada para reuso não potável.
Aplicações:
Irrigação, descargas sanitárias, limpeza de áreas externas, entre outros.
Norma técnica:
ABNT NBR 13969 – Estabelece diretrizes técnicas para uso de águas residuárias em edificações.
Definição:
Água mina na estrutura dependendo do volume do lençol freático.
Aplicações:
Geração de energia, refrigeração de equipamentos, lavagem de carros, irrigação de campos para cultivo, combate a incêndios, vasos sanitários, limpeza de ruas e irrigações de jardins.
Após o tratamento adequado, essa água pode ser reutilizada em diferentes etapas da construção civil para fins não potáveis, como preparo de concreto, limpeza de equipamentos e irrigação de áreas externas.
Norma técnica:
ABNT NBR 16783 – Regula o uso de fontes alternativas de água não potável em edificações.
Definição:
Água coletada de coberturas em áreas urbanas, que passa por tratamento físico (gradeamento, decantação e filtragem).
Aplicação:
Geração de energia, refrigeração de equipamentos, lavagem de carros, irrigação de campos para cultivo, combate a incêndios, vasos sanitários, limpeza de ruas e irrigação de jardins
Norma técnica:
ABNT NBR 15527 – Determina os parâmetros para uso da água da chuva para fins não potáveis.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), 40% dos municípios brasileiros podem enfrentar escassez hídrica nos próximos anos. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná já registram níveis críticos em seus reservatórios.
Consequências da falta de água:
Frente à possibilidade de novas crises hídricas, o reuso da água se consolida como solução inteligente, econômica e essencial. Mas ele só traz benefícios quando implementado com responsabilidade, higienização adequada e controle da qualidade.
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